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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Vozes dos adolescentes

VIOLÊNCIA

A pesquisa sobre o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), divulgada no dia 29/1, aponta que a cada mil adolescentes nascidos no ano 2000, pelo menos três correm o risco de serem vítimas de homicídio até o 19º aniversário. De acordo com o estudo, a taxa atual (de 3,32 jovens) é 17% superior à de 2011, quando o índice era de 2,84. O número ideal é abaixo de 1. Fortaleza foi à cidade brasileira com o maior índice de homicídios: para cada grupo de mil adolescentes, a capital cearense tem IHA de 9,9 jovens assassinados. Enfrentar a violência contra a infância brasileira requer esforços permanentes entre sociedade, poderes executivo, judiciário, legislativo, mídia e das próprias crianças e adolescentes. 

Com o objetivo de promover a escuta de crianças e adolescentes acerca de temas pertinentes, e contemplar estratégias de prevenção e enfrentamento a violência, é que Terre des hommes Brasil desenvolve desde 2008 o “Projeto Vozes”. Na edição de 2014 foi possível reunir as falas de 267 adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, sobre violência, educação, responsabilização e práticas restaurativas, a partir de metodologia que respeita o anonimato e promove participação ativa.
Para Tailândia, adolescente ouvida neste processo, “para não ter violência é preciso ter mais oportunidades”. A Lika alerta sobre o enfraquecimento dos laços familiares “...quando a família enfraquece, o grupo de fora ganha força”. Silvânio reconhece que precisa investir na educação: “...a gente tem que estudar, para mudar e crescer na vida”. Porém, Victor alerta que nem sempre é fácil estudar em ambiente cercado de restrições. “Lá onde eu moro é diferente porque quem é de lá de cima não pode ir lá em baixo, ai eu estudava lá em baixo, e o colégio era lá em baixo e tinha um cara que era traficante lá das áreas falou assim: ‘ei macho, tu que é de lá pode vim aqui não, bora sai voado’. Ai foi o jeito eu sair, ai parei de ir ao colégio”. Os adolescentes também expressaram opiniões sobre Paz. Victor nos diz: “Paz é poder sair na rua e não ter medo de ser assaltado, não ter medo de levar bala perdida. Paz para mim é isto ai, poder ir para escola pro meu trabalho, sem olhar para minha mãe e dizer te amo, com medo de não voltar para casa, porque hoje em dia você sai de casa sem ter certeza que você vai voltar”. A pesquisa projeta que mais de 42 mil jovens, entre 12 e 18 anos, sejam assassinados até 2019. Somente com a participação de todos é possível prevenir, mediar e enfrentar a violência. É preciso construir ações coletivas e atender suas necessidades.
*Os nomes dos adolescentes são fictícios.

Renato Pedrosa
comunicacao@tdhbrasil.org
Advogado e diretor executivo de Terre des hommes Brasil

Fonte: Jornal O Povo 23/02/2015