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domingo, 30 de junho de 2013

SONETO ANTIGO

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Cecília Meireles
CANÇÃO DE OUTONO

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Cecília Meireles

DEFESA DE DIREITOS

Conselho Tutelar I (SER I)
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 Telefone.: (85) 3281.2086

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Telefone. (85) 3452.3462 / 3452 5791 /3452 6933 / 3452 3488

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 Telefone: (85) 3131.1958

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PLANTÃO CONSELHO TUTELAR
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Telefone 85 3281 2086 / 85 8711 1235
Funcionamento todos os dias das 19h 00min as 07h 00min
Sábados, Domingos e Feriados;
07h da manhã as 19h da noite
19h da noite as 07h da manhã

Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza (CDPDH) Entidade autônoma, sem fins lucrativos, apartidária, de caráter pastoral, tendo sede e foro na cidade de Fortaleza-CE.
Av. Dom Manuel, 339 – Centro – CEP: 60.060-090 – Tel.: (85) 3388.8708
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Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca)
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Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA)
O Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar tem como objetivo prestar assistência jurídica às comunidades marginalizadas do Estado do Ceará. Endereço: Av. Desembargador Moreira, 2807 (Assembléia Legislativa do Estado do Ceará) - Bairro: Dionísio Torres - CEP: 60.170-900 – Tel.: (85) 3277.2687/ 2688 / http://www.al.ce.gov.br/freitito/

Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembléia Legislativa Av. Desembargador Moreira, 2807 - Dionísio Torres - CEP: 60.170-002 – Tel.: (85) 3277.2500 /2751 - Email: cec@al.ce.gov.br http://www.al.ce.gov.br/comissoes/texto_resumo.php?codigo=8

Varas Especializadas da Infância e da Juventude de Fortaleza. Endereço:
Rua Desembargador Floriano Benevides Magalhães, 220.Edson Queiróz CEP: 60.811-690 - Tel.: (85)3278 2959 - 4ª vara da infância e da juventude
Coordenador do Núcleo da Infância e da Juventude da Defensoria Pública do Estado
Dr. Vicente Alfeu - Tel.: (85)3278 2690 - 3ª vara da infância e da juventude
Coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Infância e da Juventude (CAOPIJ). Dra. Antônia Lima Sousa - Tel.: (85)34524538 /3452 4539

Juiz Coordenador das Varas da Infância e da Juventude.
Dr. Francisco Suenon Bastos Mota - Tel.: (85) 3278 3016/ 3278 2831 - 2ª vara da infância e da juventude

Disque Denúncia de Violência Contra Crianças e Adolescentes (Estadual)
Coordenado pelo Núcleo de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescente, da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) - Tel.: 0800.2851407

Disque Denúncia de Violência Contra Crianças e Adolescentes (Nacional)
Ações desenvolvidas por organizações não governamentais e governos federal, estaduais e municipais cujo objetivo é erradicar as formas de exploração sexual e maus-tratos, desde a responsabilização dos agressores ao atendimento à vítima.
DISQUE DENÚNCIA - 100

Disque Direitos Humanos -  (Municipal) As denúncias podem ser feitas pelo número do Fala Fortaleza - 0800-285-0880 - DDH
Defensoria Pública Núcleo Criança e Adolescente – Tel.: (85) 3101.3419 www.defensoriapublica.ce.gov.br

Delegacia de Defesa da Mulher R. Manuelito Moreira, 12 - Centro – CEP: 60.025-21 – Tel.: (85) 3433.9073
Ministério Público do Ceará R. Assunção, 1100 – José Bonifácio – CEP: 60.050-011 – Tel.: (85) 3452.3700 www.mp.ce.gov.br

Promotoria de Justiça da Saúde Pública Av. Santos Dummont, 1350 – Aldeota – CEP: 60.150-160 – Tel.: (85) 3452.1718/ 3719
Promotoria de Justiça da Educação R. Assunção, 1242 – Centro – CEP: 60.115-080 – Tel.: (85) 3252.6468
Corregedoria Geral dos Órgãos de Segurança Pública
Av. Pessoa Anta, 69 – Praia de Iracema – Tel.: (85) 3101.5028 www.seguranca.ce.gov.br

Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa)
R. Tabelião Fabião, 114 – Presidente Kennedy - CEP: 60.320-010 - Tel.: (85) 31012044/31012045
Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) R. Tabelião Fabião, 114 – Presidente Kennedy - CEP: 60.320-010 - Tel.: (85) 3101.2514/ 2515
Projeto Justiça Já
Rua Tabelião Fabião, 114 – Presidente Kennedy - CEP: 60.320-010- Tel.: (85) 3287 2569
Superintendência Regional do Ceará da Polícia Federal
R. Dr.Laudelino Coelho, 55 - Bairro de Fátima – CEP: 60.415-430
Tel.: (85) 3392.4900 - Email: cs.srce@dpf.gov.br (Comunicação Social) e gab.srce@dpf.gov.br (Gabinete)

Delegacia de Polícia Federal de Juazeiro do Norte
R. Interventor Erivano Cruz, 50 - Praça da Matriz - Juazeiro do Norte – Ceará – CEP: 63.010-905
Tel.: (88) 3311.3232 - Email: dpf.cm.jzn.srce@dpf.gov.br

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Pra acabar com o restinho das minhas energias da noite, eu leio isso. Dá arrepio de tristeza:

"Acabei de voltar da DCA (delegacia da criança e adolescente) em Fortaleza.

Segue um breve relato de um caso particular que acompanhei e que expõe o universal da ação da costumeira da PM nas periferias brasileiras:

Dois adolescentes, Felipe (17 anos) e Tarcísio (14 anos), que moram próximo ao local da manifestação, estavam, por alguns instantes, na esquina da rua onde moram, apenas observando a ação da polícia.

Quando a cavalaria se aproximou do local, avistando os meninos, eles imediatamente correram para dentro a casa da tia deles, D. Maria Neci.

Policiais forçaram a entrada na casa da D. Maria, ordenaram que os adolescentes se ajoelhassem no quarto e, mesmo diante das súplicas da tia, aplicaram vários golpes de cassetete em Felipe e Tarcísio. Os corpos dos meninos ficaram com marcas horríveis.
Eles fizeram o exame de corpo de delito e já voltaram para a casa com a tia.

Não foi a primeira vez que isso acontece e, se não virarmos a mesa, não vai ser a última.

Só penso numa coisa: é preciso seguir com força total na tentativa de promover reformas estruturais, profundas no Brasil. Vamos escancarar as coisas. Agora.

Ficaram lá: Isabel, Rafael e outr@s advogad@s resolvendo inúmeros outros casos semelhantes a esse. Parabéns moçada da RENAP-CE."

via Marcio e Laryssa Sampaio
 
Mariana Lacerda Militante da Marcha das Mulheres
 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Depois de pressão popular, Câmara rejeita PEC 37

A proposta foi rechaçada por 430 votos a favor, 9 contrários e 2 abstenções
por Agência Brasil —  
publicado 25/06/2013 22:16 
 
Iolando Lourenço e Ivan Richard
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A pressão das manifestações populares das últimas semanas, em todo o país, resultou nesta terça-feira 25 na derrubada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que limitava os poderes de investigação do Ministério Público. Aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e na comissão especial que analisou o mérito, a proposta foi rejeitada por 430 votos a favor, 9 contrários e 2 abstenções. Com a rejeição, a PEC vai ao arquivo.
Logo após a rejeição da PEC, as centenas de pessoas que acompanharam a sessão das galerias da Câmara, cantaram um trecho do Hino Nacional. Os manifestantes, em sua maioria representantes do Ministério Público e agentes da Polícia Federal, aplaudiram todos os encaminhamentos favoráveis à rejeição da proposta.
A derrubada da PEC 37 era uma das principais bandeiras dos movimentos populares que têm tomado às ruas de várias cidades brasileiras e do exterior. Por definir que o poder de investigação criminal seria restrito às policias Federal e Civil, a proposta foi considerada como “PEC da impunidade”.
Por duas vezes, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), apelou para que a rejeição fosse unânime a fim de que a Casa ficasse em sintonia com o clamor das ruas. Autor da PEC, o deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA) foi o único a defender a aprovação da proposta. Segundo ele, “um erro de percurso”, em referência às manifestações, fez com que a PEC fosse considerada “nefasta”.

*Matéria originalmente publicada na Agência Brasil
Jornal O Povo

ARTIGO20/06/2013
Plínio Bortolotti, jornalista
Nunca tive dúvida de que as manifestações que acontecem em todo o Brasil são pacíficas, pela esmagadora maioria de seus participantes, e pude comprovar comparecendo ao ato de ontem. Grupos de jovens desciam de ônibus na BR 116 e caminhavam alegremente em direção à avenida Alberto Craveiro, alguns preparando seus cartazes ali mesmo, no chão, indicativo da espontaneidade dessas manifestações.
Essas placas também são reveladoras do caráter múltiplo do protesto. Não faltaram o humor das expressões cearenses, “Aí dênto, Fifa”, com a sua antítese: “Hoje a terra do humor quer falar sério”; havia meninas tranquilizando a família: “Mãe, relaxa, estou mudando o Brasil”; até os mais politizados: “Queremos saúde e escolas com padrão Fifa”. Vi também cartaz com trecho de poesia de Carlos Drummond: “Tenho duas mãos e o sentimento do mundo” e outra com um longo texto de Alberto Camus (escritor existencialista francês), cujo conteúdo não consegui ler. A diversidade dava o tom e o clima de camaradagem entre os manifestantes, mesmo entre os que não se conheciam, era visível.
Assim, chega a ser um ponto fora da curva a hostilidade aos partidos políticos de esquerda, cujos militantes mais antigos podem ser considerados “tios” dessa rapaziada. Foram eles que abriram caminho para a democracia, que todos desfrutamos hoje. A cada vez que se levantava a bandeira de um partido, imediatamente ouviam-se palavras de ordem: “Sem partido, sem partido” ou “O povo unido não precisa de partido”. (Os jovens do Egito podem ter pensado a mesma coisa.) Um integrante do PSTU me disse: “Estamos sofrendo, mas estamos aí”, referindo-se à rejeição com que eram recebidos.
Disse acima que as manifestações são pacíficas, mas existe meia dúzia que provoca e joga pedras, mesmo que os manifestantes tentem contê-los (vi um jovem confrontar os vândalos) e os participantes unirem-se no coro “Sem violência”.
Porém, a reação da Polícia Militar é absolutamente desproporcional. E, aí, não dá para saber se o governador Cid Gomes (PSB) e a Polícia Militar são despreparados ou mal intencionados: não se contentam com as bombas de gás lacrimogêneo e o spray pimenta (que podem provocar graves ferimentos). Usam indiscriminadamente balas de borracha - que tem sim poder letal.
Foi criminoso o uso desse tipo de munição, ferindo gravemente algumas pessoas. O Ministério Público deveria abrir uma ação para responsabilizar a quem de direito. E, sugiro à PM e ao governo, que reflitam sobre a advertência de uma manifestante: “Balas de borracha não apagam a verdade”.

29/4/2013 

 Seminário do programa Infância Ideal reúne 200 pessoas 

 
O Infância Ideal reuniu entre nos dias 24, 25 e 26 de abril aproximadamente 200 pessoas das 18 cidades, em 9 Estados, onde o programa atua em parceria com a Construtora Camargo Corrêa e a InterCement no 5º Seminário Rede de Cidades pela Defesa dos Direitos da Infância. O encontro, realizado em Jaboticatubas, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), gera novo impulso aos que atuam em defesa dos direitos da infância por meio de uma densa troca de experiência em palestras, debates, oficinas temáticas e atividades culturais.

Como todo seminário do Infância, esse também teve uma música-tema. Com uma letra que dialoga diretamente com as discussões e ainda de autoria mineira, Estado que recebeu o seminário pela segunda vez, “Bola de meia, bola de gude”, de Fernando Brant e Milton Nascimento, foi a escolhida deste encontro (clique aqui para ouvir).

Na abertura oficial do Seminário, o professor Vital Didonet abordou as políticas e programas do governo que abrangem a infância e adolescência. Didonet defendeu uma ação integrada entre os ministérios do governo e as esferas de poder para fazer valer os direitos legais das crianças, que também são cidadãos. Ele é coordenador do Plano Nacional pela Primeira Infância preparado pela Rede Nacional Primeira Infância (RNPI).

“Não quero viver como toda essa gente insiste em viver. E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal”.

Para dar início ao segundo dia, a cientista Suzana Herculano-Houzel falou sobre o desenvolvimento infantil do ponto de vista da neurociência. Suzana explicou a importância do carinho, em especial da família, para que a criança se torne um adulto que reage bem diante dos problemas. E o quanto as atitudes dos pais com os filhos podem ser replicadas quando estes forem adultos, aqui se incluem as violências físicas, verbais e as noções de respeito ao próximo.

“Há um passado no meu presente. Um sol bem quente lá no meu quintal.”

Com a expansão do programa, a maior parte dos presentes participava pela primeira vez do Seminário, como a assistente social do judiciário de Abre Campo (MG), Cristiane Paiva. Questionada sobre a experiência, ela abriu um sorriso e foi direta: “Espero poder participar sempre”!

Participantes

Municípios: Abre Campo (MG), Alcântara (MA), Altamira (PA), Apiaí (SP), Cabo de Santo Agostinho (PE), Cristalina (GO), Cubatão (SP), Fortaleza (CE), Ibirité (MG), Ijaci (PE), Ipojuca (PE), Itaoca (SP), Juruti (PA), Pedro Leopoldo (MG), Porto Velho (MG), Santa Helena de Goiás (GO), Santana do Paraíso (MG) e São Luis (MA).

Parceiros operadores: Instituto Fonte, ONG Novas Alianças, Mudança de Cena, Terra dos Homens, Associação Brasileira de Magistrados e Promotores (ABMP).
16/4/2013 

 Promotores Juvenis de Fortaleza capacita 50 jovens moradores de Pirambu 

 
Começaram as aulas do projeto Promotores Juvenis que vai formar 50 jovens para atuarem no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes na região de Pirambu, bairro de Fortaleza (CE). A iniciativa, parte do projeto Grandes Obras pela Infância do Instituto Camargo Corrêa e da Construtora Camargo Corrêa, é fruto de parceria com Ministério Público do Estado do Ceará, Escola Superior do Ministério Público (ESMP), Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (Caopij), Prefeitura de Fortaleza e ONG Mudança de Cena, de São Paulo. Na região, a Construtora é responsável pelo Vila do Mar, projeto da Prefeitura Municipal para urbanizar bairros da orla da capital cearense.

Na quinta-feira, dia 11, os jovens tiveram o primeiro dos seus encontros, que vão até o final do ano. Segundo a coordenadora e arte educadora do projeto, Yara Toscano, a ideia é aprofundar a temática do direito da criança e do adolescente por meio do processo educativo e lúdico do Teatro Fórum, cuja metodologia é participativa e será desenvolvida durante o processo de construção do grupo. “Eles estavam muito empolgados, a maioria nunca participou de um grupo teatro. Nessa primeira reunião, eles entraram em contato com a proposta e foram apresentados à metodologia. Agora, estão ansiosos para começar a trabalhar”, contou a coordenadora. 

O projeto todo caminha para a montagem de um espetáculo teatral roteirizado a partir da realidade dos jovens da região. Eles irão identificar os conflitos locais que querem debater por meio dos esquetes, para identificar soluções criativas e transformadoras. A ideia é apresentar essas problemáticas para um público misto, formado pelos pais e comunidade local, bem como autoridades da área que podem fortalecer essa rede de proteção e compartilhar diferentes pontos de vista.

A coordenadora do Caopij, promotora de Justiça Antônia Lima, afirma que a exploração sexual de crianças e adolescentes é um dos maiores desafios da Barra do Ceará e da cidade de Fortaleza. “O projeto foi construído a partir da necessidade do grupo que mora na área, conhece a sua realidade, seu entorno e suas potencialidades”, explica.

O grupo é misto e formado por jovens de 12 a 21 anos. Eles foram divididos em duas turmas, uma de 20 integrantes com início às 14h e outra, um pouco maior, com 30 integrantes que se reúne às 18h. Os encontros têm duração de três horas cada, no Cuca Che Guevara, em Fortaleza. As turmas se reunirão toda quinta-feira com uma educadora e um monitor para visitar serviços de proteção à infância e ao adolescente, além de participar de oficinas e palestras com órgãos como o Ministério Público e Conselho Tutelar.

Durante os encontros eles terão tarefas a desenvolver, como assimilar as leis da infância e juventude, conhecer o conselho tutelar e participar de palestras que os ajudarão a entender os temas que vão trabalhar durante os esquetes. Uma vez por mês os alunos terão um encontro com a coordenadora do grupo, para aprofundar as questões identificadas. 

Yara Toscano explica que a ideia é incentivá-los por meio dos jogos teatrais a se “desmecanizar” mental e fisicamente para que aprendam a pensar de forma criativa na tomada de decisões, tanto na peça como na vida. “Vamos desconstruir a ideia de o coordenador ser a figura que decide por eles. Os Jovens Promotores vão aprender a tomar decisões das coisas mais simples até as coisas mais complexas, como o enfretamento à violência sexual infantil”, diz Yara. Ela ainda explica que a resposta dos alunos ao processo vai definir os rumos do grupo. Eles poderão montar uma ou mais peças, de acordo com a sua vontade e as demandas levantadas.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Carlos Drummond de Andrade

Mãos dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

domingo, 9 de junho de 2013

Razões para NÃO reduzir a maioridade penal | Revista Fórum

Razões para NÃO reduzir a maioridade penal | Revista Fórum

Movimento contra redução da maioridade penal ganha força em São Paulo

Próxima reunião, aberta à participação popular, será na segunda-feira (10); grupo programa ato para quinta-feira (13)
por Sarah Fernandes, da RBA publicado 08/06/2013 10:25
Reprodução
Movimento contra redução da maioridade penal
Movimento quer sensibilizar parlamentares contra a proposta do senador Aloysio Nunes (PSDB)
São Paulo – Vereadores, conselheiros tutelares, representantes de subprefeituras e membros de organizações sociais de São Paulo criaram neste mês o Movimento Contra a Redução da Maioridade Penal. O objetivo é sensibilizar parlamentares a se posicionarem contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 33/2012, do senador Aloysio Nunes (PSDB), que prevê que adolescentes infratores com mais de 16 anos sejam encaminhados para o sistema penitenciário convencional.
A próxima reunião do grupo, com participação aberta, será na segunda-feira (10), às 14h, na Câmara Municipal de São Paulo. Na ocasião, serão organizados uma marcha pela cidade contra a proposta, prevista quinta-feira (13) e um grande debate sobre o tema no dia 20. O movimento já tem uma página no Facebook e no Twitter e em breve será criado um blog para divulgação de notícias.
Entre os vereadores integrantes do movimento estão Juliana Cardoso (PT), Toninho Vespoli (PSOL), Paulo Fiorilo (PT), Nabil Bondoki (PT) e Jair Tatto (PT). Também participam membros do Conselho Tutelar de São Paulo, da Pastoral do Menor, do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e Pastoral da Juventude da Arquidiocese de São Paulo.
“Nós não achamos que o adolescente infrator não deve ser responsabilizado. Não é isso. Ele deve, sim, pagar pelo que ele fez, mas não no sistema carcerário convencional, onde entra um aviãozinho (que vende pequenas quantidades de drogas aos usuários) e sai um traficante”, afirma a secretária do movimento, Luciana Koga, membro do Conselho Tutelar de Cidade Tiradentes, na zona leste.
“Queremos que as pessoas se perguntem: ‘A quem interessa a redução da maioridade penal?’”, disse Luciana. “E vocês já encontraram uma resposta?”, questionou a reportagem da RBA. “Sim. É o nosso governo estadual que está há 20 anos no poder e que, nesse tempo, devia ter promovido políticas públicas para a juventude.”
“Para termos uma ideia, semana passada fui acompanhar um menino de 11 anos que foi pego pela polícia por ter roubado um celular”, continuou Luciana. “Conheci a mãe dele, grávida pela 12ª vez, que me contou que em casa só havia um saco de arroz para comer. Fui levá-los até lá, um barraco bem em frente a uma biqueira de uma favela em Cidade Tiradentes. E eu os deixei ali. Que perspectivas essa criança tem? O que foi oferecido para essa família?”
Atualmente três propostas de emenda à Constituição sobre a possibilidade de punir infratores menores de 18 anos (PECs 33/2012, 74/2011 e 83/2011) tramitam na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O relator, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), já emitiu parecer pela aprovação da PEC 33/2012 e pela rejeição das demais.
Pela proposta tucana, adolescentes com 16 anos seriam encaminhados para o sistema carcerário convencional nos casos de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo ou reincidência na prática de lesão corporal grave e roubo qualificado.
Caberá ao Ministério Público decidir sobre a medida, levando em consideração a conduta do adolescente infrator, seu histórico familiar, social, cultural e econômico.

Bebê sequestrada em clínica é encontrada em Caucaia; acusada é presa | O POVO

Bebê sequestrada em clínica é encontrada em Caucaia; acusada é presa | O POVO

sábado, 8 de junho de 2013

“Reduzir a maioridade penal é decreto de falência do Estado brasileiro”

publicado em 28 de maio de 2013 às 16:06

Manifesto defende manutenção da maioridade penal em 18 anos de idade
da Redação do Brasil de Fato
Um conjunto de movimentos sociais, centrais sindicais, entidades estudantis, organizações da juventude, pastorais, organizações não-governamentais, intelectuais e especialistas na área do Direito divulgou, nesta terça-feira (28), um manifesto contra a redução da maioridade penal.
O documento, lançado com 150 assinaturas de cidadãos e organizações sociais, afirma que “reduzir a maioridade penal é inconstitucional e representa um decreto de falência do Estado brasileiro, por deixar claro à sociedade que a Constituição é letra-morta e que as instituições não têm capacidade de realizar os direitos civis e sociais previstos na legislação”.
Entre os signatários do manifesto estão o professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Fábio Konder Comparato; a filósofa Marilena Chauí; o desembargador Tribunal de Justiça de São Paulo, Alberto Silva Franco; o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Pedro Casaldáliga; e o presidente do PT, Rui Falcão.
O documento é assinado também pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) e Associação dos Juízes pela Democracia (AJD).
“Somos contrários à redução da maioridade penal e defendemos, para resolver os problemas com a segurança pública, que o Estado brasileiro faça valer o que está na Constituição, especialmente os artigos relacionados aos direitos sociais”, defendem no texto.
Os signatários denunciam ainda a postura dos grandes meios de comunicação para impor uma mudança na legislação. “A grande mídia tem feito uma campanha baseada na criação de um clima de medo e terror, para construir um apoio artificial das famílias brasileiras à liberação da prisão de seus filhos e netos como solução para a segurança pública. Autoridades aproveitam esse clima para, de forma oportunista, se colocarem como pais e mães dessas propostas”, afirma o documento.
O manifesto está aberto para adesões pelo endereço. Clique AQUI 
Manifesto contra a redução da maioridade penal
“Nós, cidadãos brasileiros e organizações sociais, manifestamos preocupação com as declarações de autoridades e com a campanha dos grandes meios de comunicação em defesa de projetos de lei que visam reduzir a maioridade penal ou prolongar o tempo de internação de crianças e adolescentes em medida socioeducativa.
A grande mídia tem feito uma campanha baseada na criação de um clima de medo e terror, para construir um apoio artificial das famílias brasileiras à liberação da prisão de seus filhos e netos como solução para a segurança pública. Autoridades aproveitam esse clima para, de forma oportunista, se colocarem como pais e mães dessas propostas.
Dados da ONU apontam que uma minoria de países definem o adulto como pessoa menor de 18 anos. De acordo com a Unicef, de 53 países, sem contar o Brasil, 42 adotam a maioridade penal aos 18 anos ou mais, o que corresponde às recomendações internacionais de existência de um sistema de justiça específico para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos. Ou seja, a legislação brasileira é avançada por ser especializada para essa faixa etária.
Não existe uma solução mágica para os problemas na área de segurança pública que nosso País vivencia. A redução da maioridade penal ou o prolongamento do tempo de internação não passam de uma cortina de fumaça para encobrir os reais problemas da nossa sociedade.
A universalização da educação de qualidade em todos os níveis e o combate à violenta desigualdade social, somados a programas estruturantes de cidadania, devem ser utilizados como instrumentos principais de ação em um País que se quer mais seguro e justo.
Os dados do sistema carcerário nacional – em que 70% dos presos reincidem na prática de crimes – demonstram que essas mesmas “soluções mágicas” só fizeram aumentar os problemas. O encarceramento das mulheres cresce assustadoramente e, com relação às crianças e adolescentes, o que se vê são os mesmos problemas dos estabelecimentos direcionados aos adultos: superlotação, práticas de tortura e violações da dignidade da pessoa humana.
Reduzir a maioridade penal é inconstitucional e representa um decreto de falência do Estado brasileiro, por deixar claro à sociedade que a Constituição é letra-morta e que as instituições não têm capacidade de realizar os direitos civis e sociais previstos na legislação.
Às crianças, adolescentes e jovens brasileiros, defendemos o cuidado, pois são eles que construirão a Nação brasileira das próximas décadas. Cuidar significa investimento em educação, políticas sociais estruturantes e, sobretudo, respeito à dignidade humana.
Por isso, somos contrários à redução da maioridade penal e defendemos, para resolver os problemas com a segurança pública, que o Estado brasileiro faça valer o que está na Constituição, especialmente os artigos relacionados aos direitos sociais.

Cidadãos brasileiros:
Fábio Konder Comparato- Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Marilena Chauí, Professora titular de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP)
Alberto Silva Franco – desembargador TJSP e membro-fundador do IBCRIM – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia
Rui Falcão, presidente do PT

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Motivo
 
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

CEBs: Justiça e Profecia. A serviço da vida a partir dos injustiçados
 
03.06.13 - Brasil
Frei Gilvander Luís Moreira
Adital

"Nada a temer senão o correr da luta / Nada a fazer senão esquecer o medo /
Abrir o peito à força, numa procura / fugir às armadilhas da mata escura”.
(Música Caçador de mim, de Milton Nascimento).
Com o tema CEBs: JUSTIÇA E PROFECIA A SERVIÇO DA VIDA, e o lema: CEBs, ROMEIRAS DO REINO NO CAMPO E NA CIDADE, dias 31/05 e 1 e 2 de junho de 2013, aconteceu, em uma Escola Estadual, em Ressaquinha, MG, o XXVIII Encontro de CEBs da Região Sul da Arquidiocese de Mariana, MG. Participaram cerca de cem lideranças de muitas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs - de várias paróquias, participantes de várias pastorais da Igreja Católica, de pastorais sociais e de movimentos sociais populares. Os/as participantes foram hospedados graciosamente em casas de famílias da Paróquia São José, em Ressaquinha. Entre celebrações, animação, convivência, troca de experiência e reflexão sobre o tema, acima, o Encontro se deu, sob assessoria nossa. Que beleza a prioridade que a Arquidiocese de Mariana dá ao acompanhamento das CEBs, com Roteiros de Reflexão, com milhares de cópias, para semanalmente subsidiar os Grupos de Reflexão que, com um olho na Bíblia e outro na realidade dos pobres, vão tecendo relações humanas, cultivando a vida em comunidades e conjuntamente buscando solução para os problemas que afligem a vida do povo. Entre vários movimentos populares, animados pelas CEBs, há em Barbacena o Movimento Cidadania Já, que vem lutando por Política com ética. Eis, abaixo, um pouco do que refletimos no Encontro.
1 - Luta por justiça, o que é isso?
"Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão...” Essa foi a primeira música religiosa que aprendi na minha vida. Já assisti umas trinta vezes ao filme ROMERO, de John Duigan, sobre a conversão, a opção pelos pobres e o martírio de Dom Oscar Romero. Sinto que é mais do que verdade o que disse dom Oscar Romero na iminência de ser assassinado: "se me matam, ressuscitarei na luta do meu povo”. De forma organizada, com fé no Deus da vida, fé nos pequenos, nos/as companheiros/as e em si mesmo, o povo das CEBs segue lutando por justiça, rompendo os grilhões que o aprisionam.
Jesus, ressuscitado e presente no nosso meio, testemunha um caminho de salvação não tanto porque sofreu demais, mas porque amou demais. Jesus se doou integralmente. Viveu consolando os aflitos e afligindo os consolados. Colocar a vida em risco por amor aos pobres que, em movimento, se rebelam contra todas as opressões, é estar em sintonia com Jesus e com seu projeto. Diante de tantas injustiças que bradam aos céus não dá para ficar calado. "Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão.” (Lc 19, 40).
A melhor forma de ser solidário com uma pessoa ameaçada de morte (e de ressurreição) é entrar para a luta também. O dia que aumentar o número de pessoas na luta seremos como o povo hebreu no Egito: "um povo numeroso e forte.” Aí não será mais possível os chefes dos sistemas opressores matarem Chico Mendes, no Acre; Padre Ezequiel Ramin, em Rondônia; Padre Josimo Tavares, em Imperatriz, MA; Irmã Dorothy e os Sem Terra, no Pará; Padre Gabriel, no Espírito Santo; Francisco Anselmo e Dorcelina Follador, no Mato Grosso do Sul; Os fiscais em Unaí, MG; Os Sem Terra, em Felisburgo, MG e ... Não poderão mais matar ninguém para tentar intimidar outros.
Nos últimos tempos, o Império do capital impôs a mais pesada sexta-feira santa sobre a humanidade, sobre a mãe terra, sobre a irmã água, sobre a flora e a fauna. Há devastação socioambiental, o que gera sofrimento em demasia. A via-sacra imposta a milhões de injustiçados não tem apenas 15 estações, mas está se tornando sem fim.
Jesus foi condenado à morte pelos poderes político, religioso e econômico. Deus pai jamais quis que seu filho fosse crucificado. Por amor, Deus ressuscitou Jesus. O germe da vida está inoculado em tudo. Com a ressurreição de Jesus as utopias jamais morrerão; os sonhos de libertação jamais serão pesadelos; a luta dos pequenos será sempre vitoriosa (ainda que custe muito suor e, às vezes, sangue); as forças da Vida terão sempre a última palavra. A vida prevalecerá sobre a morte; a ética sobre a corrupção; a verdade sobre a mentira; o bem sobre o mal; a solidariedade sobre o egoísmo; o amor ao próximo sobre o egocentrismo; a justiça sobre as injustiças. Por mais cruéis que sejam, todas as tiranias e guerras passarão! As crianças, as pessoas com deficiência e todos que se regem pela lógica do amor triunfarão. Nisso cremos e por isso lutamos.
Se olharmos, com benevolência, com os olhos do coração, em volta e no mais profundo das relações humanas, veremos, surpresos, que os sinais de Páscoa superam os sinais de morte. Vejam! Atenção! No ventre de uma grande noite escura, em muitas lutas, grandes e pequenas, umas visíveis e outras invisíveis, está em gestação uma radiante transformação, um novo paradigma de convivência onde não seja tão difícil tratarmos os seres da natureza com compaixão e nosso próximo com humanidade e com cuidado.
É hora de refletirmos: Como ser solidário lutando por justiça? Qual a diferença entre fazer solidariedade e lutar por justiça?
2 - PROFECIA, o que é isso?
"Não deixe morrer a profecia.” (Dom Hélder Câmara)
Os profetas e as profetisas da Bíblia não tinham um canal de comunicação direta com Deus, como se fossem pessoas privilegiadas. Deus não ditava-lhes as profecias. Devemos sepultar, de uma vez por todas, essa ideia que só serve para impedir as pessoas simples de desenvolverem a capacidade profética que todos nós temos. Não precisamos ficar lamentando: "Ah, se eu fosse Jeremias, se eu fosse Elias, ou Ezequiel, ou Amós, ou Oséias.”. Os profetas e profetisas da Bíblia eram pessoas do povo. Conseguiram desenvolver toda a beleza, a grandeza e a dignidade humana existente neles. Isto é possível a qualquer pessoa que se coloque em sintonia com a realidade do povo simples, na perspectiva da fé libertadora.
Os profetas e as profetisas são pessoas com corações sonhadores, pés cravados no chão, mãos sujas na labuta e cabeça erguida. Nas palavras e no testemunho, Paulo Freire disse para nós: "Ai daqueles e daquelas que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora, se atrelam a um passado de exploração e de rotina”(1).
Sentindo-me na pele dos Sem Terra, dos sem teto, das pessoas injustiçadas, convido você para visitar algumas profecias bíblicas de Elias, de Amós, de Miqueias e de Jesus de Nazaré, na esperança de que possam iluminar nossas consciências e aquecer nossos corações para discernirmos bem e comprometermos de fato com a causa dos pobres que, com fé libertadora, lutam por justiça social, justiça ambiental, justiça agrária...
Em meados do século XIX a.C., o profeta Elias ferveu o sangue de indignação quando ouviu e viu que o rei Acab, a primeira dama Jezabel e latifundiários estavam reforçando a latifundiarização da terra prometida pelo Deus da vida ao povo Sem Terra, filhos/as de Abraão e Sara. A terra para o povo da Bíblia é herança de Deus, deve ser passada de pai para filho para usufruto e jamais ser considerada uma mercadoria. "Javé me livre de vender a herança de meus pais” (I Rs 21,3), respondeu Nabot, um pequeno agricultor, ao receber uma proposta indecorosa do rei que desejava comprar seu sítio para anexá-lo ao grande latifúndio que já tinha acumulado. O rei Acab se irritou com a resistência de Nabot. Jezabel, rainha adepta do ídolo Baal, manipulou a religião e a justiça para roubar a terra do pequeno posseiro. Caluniou, criminalizou e demonizou Nabot que, com o beneplácito do poder judiciário, foi condenado à pena de morte na forma de apedrejamento, morte que mata aos poucos. Hoje, o "apedrejamento” aos empobrecidos acontece por meio de calúnias, humilhações e, muitas vezes, com o veredicto do Estado, através do poder judiciário. Mais de seis milhões de indígenas e outros seis milhões de negros, como Nabot, foram "apedrejados” no Brasil.
Mas a opressão dos pobres e o sangue dos mártires suscitam profetas. O profeta Elias, ao ouvir que o rei Acab estava invadindo o pequeno sítio de Nabot, após o ter matado, em alto e bom som, profetizou: "Você matou, e ainda por cima está roubando? Por isso, assim diz Javé (Deus solidário e libertador): No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o seu. Farei cair sobre você a desgraça” (I Rs 21,19.21). Acab desencadeou uma grande perseguição ao profeta Elias, que fugiu, mas refez sua opção pelo Deus da vida e continuou a luta ao descobrir que não estava sozinho na luta. Outros sete mil profetas conspiravam ao lado dele na luta contra as injustiças. Elias inspirou Eliseu, que inspirou Jesus de Nazaré, que inspira milhões de pessoas cristãs pelo mundo afora. Acab teve morte parecida com a do general Garrastazu Médici, que, após liderar anos de chumbo no Brasil, morreu carcomido por um câncer.
Por volta de 760 a.C., o profeta Amós, camponês sem-terra, insurge contra a injustiça social. Em Am 4,1-3, do coração de Amós brada: "OUVI esta palavra, vacas de Basã, que estais sobre monte de Samaria, que oprimis os fracos, que esmagais os excluídos, que dizeis aos vossos senhores: "Trazei-nos o que beber!”. O Senhor Javé jurou, pela sua santidade: sim, dias virão sobre vós, em que vos carregarão com ganchos e a vossos descendentes com arpões (de pesca).”
A expressão "vacas de Basã” adquire um sentido mais verdadeiro dentro da cultura bíblica se o termo "vacas” não for utilizado em relação a mulheres, mas a homens, aqueles que quiseram ser como os touros de Basã, que pela sua força se tornaram "vacas”, com conotação depreciativa. Na profecia de Amós está uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o (des)governo expansionista do rei Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C.. Amós tem consciência de que o problema fundamental da injustiça reinante na sociedade não é fruto somente de fraquezas pessoais, mas tem como causa motriz estruturas sócio-econômico-político-cultural e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas.
Camponês de origem, o profeta Miqueias captou os sussurros do Deus da vida no final do século VIII a.C., quando o território de seu povo estava sendo devastado pelos assírios imperialistas. Para Miqueias, a cobiça e as injustiças sociais deixam Deus possuído por uma ira santa. "São vocês os inimigos do meu povo: de quem está sem o manto (como os Sem Terra de hoje), vocês exigem a veste; vocês expulsam da felicidade de seus lares as mulheres do meu povo (como milhares de meninas que são empurradas para a prostituição infanto-juvenil), e tiram dos filhos a liberdade que eu lhes tinha dado para sempre (como a juventude que, jogada nas garras do narcotráfico, está sendo dizimada pela guerra civil não declarada.). (Miq 2,8-9).
Após libertar das garras dos faraós no Egito e marchar 40 anos pelo deserto, o povo oprimido da Bíblia conquista a terra prometida que estava em mãos de grileiros cananeus, os territórios foram sorteados fraternalmente, para que cada família tivesse o seu lote. Democratizaram o acesso a terra. Mas após alguns séculos, os enriquecidos, pouco a pouco, invadiram cada vez mais campos e territórios. Assim, multidões de sem-terra foram jogados na miséria, impossibilitados de ter a sua parte na terra do povo de Deus.
Vindo da roça, Miqueias, ao chegar à capital Jerusalém, se defronta com os enriquecidos e com políticos e religiosos profissionais e os acusa de roubar casas e campos para se tornarem latifundiários. "Ai daqueles que, deitados na cama, ficam planejando a injustiça e tramando o mal! É só o dia amanhecer, já o executam, porque têm o poder em suas mãos. Cobiçam campos, e os roubam.” (Miq 2,1-2).
Miqueias mostra que a riqueza deles se baseia na miséria de muitos e tem como alicerce a carne e o sangue do povo. "Essa gente tem mãos habilidosas para praticar o mal: o príncipe exige, o juiz se deixa comprar, o grande mostra a sua ambição. E assim distorcem tudo. O melhor deles é como espinheiro, o mais correto deles parece uma cerca de espinhos! O dia anunciado pela sentinela, o dia do castigo chegou: agora é a ruína deles.” (Miq 7,3-4).
O galileu de Nazaré se tornou Cristo, filho de Deus. Como camponês, deve ter feito muitos calos nas mãos, na enxada e na carpintaria, ao lado do seu pai José. Os evangelhos fazem questão de dizer que Jesus nasceu em Belém, (em hebraico, "casa do pão” para todos), cidade pequena do interior. "És tu Belém a menor entre todas as cidades, mas é de ti que virá o salvador”, diz o evangelho de Mateus. (Mt 2,6).
É hora de refletir: O que de fato é profecia? Quem é profeta ou profetisa para nós? Como podemos e devemos ser profetas ou profetisas?
3 - SERVIÇO À VIDA, o que é isso? Que tipo de serviço as CEBs devem continuar prestando?
Os relatos dos evangelhos sobre a partilha dos pães nos ensinam como atacar pela raiz os problemas da fome, da doença e da injustiça. Ensina-nos como devemos servir à vida de forma libertadora, não ingênua. Vejamos!
A fome era um problema tão sério na vida dos primeiros cristãos e cristãs, que os quatro evangelhos da Bíblia relatam Jesus partilhando pães e saciando a fome do povo (cf. Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-17 e Jo 6,1-13). Mateus mostra que o povo faminto "vem das cidades”, ou seja, as cidades, ao invés de serem locais de exercício da cidadania, se tornaram espaços de exclusão e de violência sobre os corpos humanos.
"Jesus atravessa para a outra margem do mar da Galileia” (Jo 6,1), entra no mundo dos gentios, dos pagãos, dos impuros, enfim, dos excluídos. Jesus não fica no mundo dos incluídos, mas estabelece comunicação efetiva e afetiva entre os dois mundos, o dos incluídos e o dos excluídos. Assim, tabus e preconceitos começam a se desmoronar.
Profundamente comovido, porque "os pobres estão como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), Jesus percebe que os governantes e líderes da sociedade não estavam sendo libertadores, mas estavam colocando grandes fardos pesados nas costas do povo. Com olhar altivo e penetrante, Jesus vê uma grande multidão de famintos que vem ao seu encontro, só no Brasil são milhões de pessoas que têm os corpos implodidos pela bomba silenciosa da fome.
Jesus não sentiu medo dos pobres, encarou-os e procura superar a fome que os golpeava e humilhava. Apareceram dois projetos para resgatar a cidadania do povo faminto. O primeiro foi apresentado por Filipe: "Onde vamos comprar pão para alimentar tanta gente?” (Jo 6,5). No mesmo tom, outros discípulos tentavam lavar as mãos: "Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si.” (Mt 14,15). Filipe está dentro do mercado e pensa a partir do mercado. Está pensando que o mercado é um deus capaz de salvar as pessoas. Cheio de boas intenções, Filipe não percebe que está enjaulado na idolatria do mercado.
O segundo projeto é posto à baila por André, um outro discípulo de Jesus, que, mesmo se sentindo fraco, acaba revelando: "Eis um menino com cinco pães e dois peixes” (Jo 6,9). Jesus acorda nos discípulos e discípulas a responsabilidade social, ao dizer: "Vocês mesmos devem alimentar os famintos” (Mt 14,16). Jesus quer mãos à obra. Nada de desculpas esfarrapadas e racionalizações que tranquilizam consciências. Jesus pulou de alegria e, abraçando o projeto que vem de André (= humano, em grego), anima o povo a "sentar na grama” (Jo 6,10). Aqui aparecem duas características fundamentais do processo protagonizado por Jesus para levar o povo da exclusão à cidadania. Jesus convida o povo para sentar-se. Por quê? Na sociedade escravocrata do império romano somente as pessoas livres, cidadãs, podiam comer sentadas. Os escravos deviam comer de pé, pois não podiam perder tempo de trabalho. Era só engolir e retomar o serviço árduo. Um terço da população era escrava e outro terço, semiescrava. Logo, quando Jesus inspira o povo para sentar-se, ele está, em outros termos, defendendo que os escravos têm direitos e devem ser tratados como cidadãos.
Por que sentar na grama? A referência à existência de "grama” no local indica que o povo está no campo, na zona rural, e é a partir de uma reorganização da vida no campo que poderá advir uma solução radical para a fome que aflige o povo nas cidades. Em outras palavras, o combate que liberta da fome passa necessariamente pela realização de uma autêntica Reforma Agrária. Não dá para continuar a iníqua estrutura fundiária no Brasil, com 2% da população sendo proprietária de 50% da terra brasileira. Mais: apenas 10% das terras férteis brasileiras são usadas para a agricultura.
Jesus estimula a organização dos famintos. "Sentem-se, em grupos de cem, de cinqüenta, de dez...” (Mc 6,40). Assim Jesus e os primeiros cristãos nos inspiram que a resolução do problema da fome só será superado quando o povo marginalizado e excluído se organizar. Jesus provoca a solidariedade conclamando para a organização dos marginalizados como meio para se chegar à cidadania que não é apenas participar da sociedade, mas transformá-la.

Belo Horizonte, MG, Brasil, 03 de junho de 2013.
www.gilvander.org.br – gilvanderlm@gmail.com
Nota:
(1) ANA INÊS SOUZA (org.), Paulo Freire, vida e obra, Ed. Expressão Popular, São Paulo, 2002, p. 20.

Fonte: ADITAL

domingo, 2 de junho de 2013

Mortalidade infantil diminui 17% após Bolsa Família, diz pesquisa


A taxa de mortalidade de crianças menores de 5 anos caiu 17% após a instituição do programa Bolsa Família, segundo uma pesquisa elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil. O estudo, feito entre 2004 e 2009, usou dados de quase três mil municípios brasileiros e foi publicado na revista The Lancet. Entre mortes específicas por algumas causas, a redução foi ainda maior: 65% óbitos a menos nos casos de desnutrição e 53% a menos nos casos de diarreia.

Segundo a pesquisa, o aumento da renda que é proporcionado pelo benefício permite que as famílias tenham acesso a alimentos e outros bens relacionados à saúde. Isso diminui a pobreza das famílias, melhora as condições de vida das pessoas, reduz as dificuldades de ter acesso à saúde e, por consequência, contribui para que diminua o número de mortes entre as crianças.

O estudo foi conduzido por Davide Rasella, mestre em saúde comunitária e doutor em saúde pública pela UFBA como parte do seu programa de doutorado. Ele teve a colaboração de vários pesquisadores, entre eles o coordenador do Centro Rio+ para o Desenvolvimento Sustentável, Romulo Paes-Sousa, PhD em epidemiologia ambiental pela Universidade de Londres e pesquisador associado do Institute of Development Studies da Universidade de Sussex, em Brighton, no Reino Unido.

Terra

Dias: Gurgel mostra a sua fé | Conversa Afiada

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