Total de visualizações de página

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Canção do exílio
Gonçalves Dias

 Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.


Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
 
Coimbra - julho 1843.
Morrem 62 crianças por desnutrição na Guatemala durante 2013
Adital

Foto:JM LópezA cifra de crianças mortas por desnutrição aguda na Guatemala durante 2013 chegou a 62, conforme o chefe da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), Luis Monterroso.
O diretor afirmou que nos primeiros sete meses deste ano foram divulgados 9.786 casos de desnutrição. Segundo disse, os pais dos menores não os levam aos centros de saúde para prevenção. Quando a Sesan detecta casos de menores desnutridos, acionam a Polícia Nacional Civil e a Procuradoria Geral da Nação para resgatá-los, complementou.
No final de junho passado, o Ministério de Saúde e Assistência Social já indicava que a desnutrição aguda causou a morte de 51 crianças, a situação só se agravou. As regiões com índices mais elevados de doentes desse tipo são Chiquimula, Jutiapa, Jalapa, Zacapa, Escuintla, Santa Rosa, Petén norte e sul-oriental, Quetzaltenango, Retalhuleu, El Progresso, Ixcán, Guatemala central e Huehuetenango, de acordo com o Sistema de Informação Gerencial de Saúde.
Dados oficiais dão conta de que 48 por cento dos menores de cinco anos sofrem desnutrição neste país centro-americano.
Corredor seco
Foto:JM LópezNa parte oriental da Guatemala conhecida como Corredor Seco, a perda da última colheita do milho e do feijão devido à seca e à mudança climática deixou mais de 50 mil famílias em situação de risco, porque vivem em extrema pobreza e só dependem de suas plantações para a sobrevivência.
A desnutrição crônica também afeta grande parte da população, especialmente indígena, e faz com que o desenvolvimento físico e mental atrase nos primeiros anos de crescimento e nunca mais recuperam, resultando em adultos subnutridos com um coeficiente muito baixo intelectual.
Médicos e educadores, instituições públicas e privadas e ONGs, estão visitando as comunidades indígenas mais remotas do país, estão distribuindo alimentos entre a população e detectam casos de desnutrição grave.

* Com informações dadas Prensa Latina e Anhua ong

Fonte: ADITAL

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os médicos cearenses que foram desrespeitar os colegas médicos Cubanos, estão no mínimo com medo, pois por vários anos deixavam os pacientes morrerem nos corredores dos Hospitais, nas filas dos postos de saúde pois não iam para os plantões e quando iam abandonavam para atender em seus consultórios.
Por isso tem raiva desses que vem exclusivamente para atender nos postos de saúde de nosso grande ceará. 
BEM VINDOS!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013


O duro recado que o Papa Francisco passou aos Bispos

20/08/2013
Jean Mercier, um publicista frances, se deu conta da gravidade das palavras do Papa Francisco dirigidas aos bispos, arebiispos e cardeais reunidos no Rio por ocasião da Jornada Mundial da Juventudo. Foram as palavras mais duras que o Papa usou aqui. Infelizmente não foram comentadas pela imprensa, certamente, porque julga se tratar de asuntos internos da Igreja. De fato são, mas com repercussão enorme na vida pública, lá onde a Igreja se faz presente. Sei de fonte fidedigna, pois a pessoa estava presente, que um dos bispos conservadores com hábitos principescos, apenas comentou irritado:”que discuro ridículo, esse do Papa”. É bom relermos tal mensagem. Jean Mercier nos fez o favor de dar-lhe relevância, coisa que fiz en pessant nos meus artigos. Publicou sua matéria la revista La Vie  sob o título A encíclica oculta dFrancisco no Rio e traduzida para o portugues pelo IHU de 9 de agosto de 2013: Lboff
*******************************
Oficialmente, a primeira encíclica do Papa Francisco intitula-se Lumen Fidei, e foi publicada no começo de julho passado. Mas ela foi escrita principalmente por Bento XVI; Francisco contentou-se em lhe acrescentar uma espécie de posfácio. Na realidade, o papa trabalhava em outros textos, aqueles que iria pronunciar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e, especialmente, em dois discursos fundamentais, endereçados aos bispos, que ficaram um pouco perdidos no meio da massa de palavras endereçadas aos jovens durante a JMJ
No sábado, 27 de julho, aos bispos brasileiros, o Papa Francisco abordou questões difíceis e exigentes do domínio da pastoral, em um texto muito forte. Na manhã seguinte, ele ampliou seu propósito através de uma alocução aos bispos vindos de toda a América Latina. O conjunto desses dois discursos constitui uma espécie de encíclica “oficiosa”, verdadeiro programa para o pontificado, cujo fio condutor é uma autocrítica severa e o apelo à conversão da instituição. O veredicto é claro, mesmo sob a forma de eufemismo: “Estamos um pouco atrasados no que se refere à Conversão Pastoral”.
1. Quebrar o tabu em relação às mulheres e o cisma silencioso dos decepcionados com a Igreja
Como nenhum Papa antes dele, Francisco se confronta com a dolorosa questão dos católicos que abandonaram a Igreja, fenômeno atestado na América Latina, mas que é conhecido de todos os países, especialmente os europeus, nos últimos 50 anos. Ele evoca assim “o mistério difícil das pessoas que abandonaram a Igreja” e se deixaram seduzir por outras propostas.
Esta questão, considerada tabu durante muito tempo, é a ocasião para uma severa autocrítica: “Talvez a Igreja lhes apareça demasiado frágil, talvez demasiado longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar resposta às suas inquietações, talvez demasiado fria para com elas, talvez demasiado auto-referencial, talvez prisioneira da própria linguagem rígida, talvez lhes pareça que o mundo fez da Igreja uma relíquia do passado, insuficiente para as novas questões; talvez a Igreja tenha respostas para a infância do homem, mas não para a sua idade adulta”.
O Papa acusa a Igreja de ser de tal maneira exigente em seus “padrões” que desencoraja o conjunto das pessoas: “muitos buscaram atalhos, porque se apresenta demasiado alta a ‘medida’ da Grande Igreja. Também existem aqueles que reconhecem o ideal do homem e de vida proposto pela Igreja, mas não têm a audácia de abraçá-lo. Pensam que este ideal seja grande demais para eles, esteja fora das suas possibilidades; a meta a alcançar é inatingível”.
Uma Igreja chata, rígida, fria, centrada no seu umbigo! Nunca Bento XVI e João Paulo II fizeram semelhante autocrítica.Bergoglio não tem medo de dizer a verdade ao pensar em todos esses que se afastaram dela: “Perante esta situação, o que fazer? Necessitamos de uma Igreja que não tenha medo de entrar na noite deles. Precisamos de uma Igreja capaz de encontrá-los no seu caminho. Precisamos de uma Igreja capaz de inserir-se na sua conversa. Precisamos de uma Igreja que saiba dialogar com aqueles discípulos, que, fugindo de Jerusalém, vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto, com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um terreno estéril, infecundo, incapaz de gerar sentido. (…) Hoje, precisamos de uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir para além da simples escuta”.
O Papa não hesita em tocar em outro assunto tabu na instituição: o lugar das mulheres: “Não reduzamos o empenho das mulheres na Igreja; antes, pelo contrário, promovamos o seu papel ativo na comunidade eclesial. Se a Igreja perde as mulheres, na sua dimensão global e real, ela corre o risco da esterilidade”. Embora a menção seja lapidar, é a primeira vez que um Papa reconhece que a Igreja perdeu parte da sua credibilidade em relação às mulheres.
A solução passa, segundo o Papa, pelo exercício da maternidade da Igreja, isto é, pelo exercício da misericórdia. “Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão… Por isso, faz falta uma Igreja capaz de redescobrir as entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, temos hoje poucas possibilidades de nos inserir em um mundo de ‘feridos’, que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor”. Nesse campo, há progressos a realizar: “Num hospital de campanha a emergência é curar as feridas”.
A outra dimensão é a empatia afetiva e a proximidade: “Eu gostaria que hoje nos perguntássemos todos: Somos ainda uma Igreja capaz de aquecer o coração?”.
2. A reforma da Igreja a partir da missão, e não da burocracia ou da ideologia
Verdadeiramente, o Papa defende “toda uma dinâmica de reforma das estruturas eclesiais” que se tornaram obsoletas. Mas, cuidado! A reforma deve ser feita a partir de um critério específico: a missão, e não a sofisticação administrativa… A “mudança das estruturas” (das caducas para as novas) não é “fruto de um estudo de organização do sistema funcional eclesiástico. (…) O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade”.
Encontramos aqui, na alocução do Papa Francisco aos bispos latino-americanos, uma reflexão de fundo que já é aquela de alguns bispos europeus, que apelam a uma verdadeira conversão pastoral, e que o Papa apresenta sob a forma de um verdadeiro exame de consciência. O Papa exorta a uma revolução pastoral mais que administrativa. O Papa denuncia o funcionalismo que “olha para a eficácia”, que se deixa fascinar pelas estatísticas e “reduz a realidade da Igreja à estrutura de uma Ong”.
A partir daí, o Papa Francisco define as “tentações do discípulo missionário”, situando, como bom jesuíta, o desafio sob a perspectiva do discernimento, e, portanto, do combate espiritual contra “o espírito mau” que leva à “ideologização” da mensagem evangélica. Ele lista quatro desvios, agrupando dois a dois os extremos, progressistas e conservadores:
A redução socialista, “uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais”. Ela recobre os campos mais variados: do liberalismo de mercado às categorias marxistas;
A ideologização psicológica. Trata-se de uma aproximação “elitista” que reduz o encontro com Cristo a uma dinâmica de autoconhecimento, sem transcendência;
A proposta gnóstica, dos reformistas inspirados no “Iluminismo”. O Papa explicou que ele recebia, desde o começo do pontificado, cartas de fiéis, pedindo pelo “casamento dos sacerdotes e a ordenação das boas irmãs”, mas que a reforma necessária da Igreja, segundo ele, não se situa neste nível.
A proposta pelagiana, aqueles católicos que procuram “uma restauração de condutas e formas superadas” ou uma “segurança” doutrinal e disciplinar.
3. Dar vida à colegialidade com os leigos e a descentralização em relação a Roma
Francisco recorda a importante valorização dos leigos na missão: “Nós, Pastores Bispos e Presbíteros, temos consciência e convicção da missão dos fiéis e lhes damos a liberdade para irem discernindo, de acordo com o seu caminho de discípulos, a missão que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e acompanhamos, superando qualquer tentação de manipulação ou indevida submissão? Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca do bem da Igreja e pela sua Missão no mundo?”. O Papa também pediu aos bispos para confiar no “talento” de seu rebanho “para encontrar novas rotas”. Ao diabo a autocracia: “O bispo deve guiar, o que não é o mesmo que dominar”.
Ecoando o que vem dizendo desde a sua eleição, o Papa denuncia o clericalismo: “Na maioria dos casos, trata-se de uma cumplicidade pecadora: o pároco clericaliza e o leigo lhe pede por favor que o clericalize, porque, no fundo, lhe resulta mais cômodo”.
Como solução, o Papa recorda a importância dos conselhos: “Tanto estes como os Conselhos paroquiais de Pastoral e de Assuntos Econômicos são espaços reais para a participação laical na consulta, organização e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos é determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso”.
Ansiosamente aguardado sobre o tema da colegialidade entre bispos, Francisco reabilita a vitalidade local, em detrimento de uma abordagem centrada em Roma. Rompendo com a visão de seus predecessores, que desafiaram a autonomia das estruturas nacionais, o Papa Francisco valoriza as “Conferências Episcopais” como “um espaço vital”: “Faz falta, pois, uma progressiva valorização do elemento local e regional. Não é suficiente a burocracia central, mas é preciso fazer crescer a colegialidade e a solidariedade; será uma verdadeira riqueza para todos”.
Esta visão confirma a atitude de Francisco em sua vontade de realinhar o papado como serviço da unidade. Ele se considera primeiro como bispo, em vez de Papa, como ele lembrou várias vezes no Rio, seja aos jovens, seja aos bispos: “Eu gostaria de falar de bispo para bispo”, confidencia aos seus interlocutores do CELAM.
Não é mera coincidência se o Papa aborda, em sua “encíclica oculta”, questões de método de trabalho. Ele lembrou que o encontro dos bispos latino-americanos (CELAM), em Aparecida, em 2007, não foi construído a partir do método romano usado em outros encontros do CELAM, e em Sínodos Romanos, ou seja, o método do Instrumentum laboris. Com este jargão se denomina o documento que define o tom dos debates, cujo conteúdo tem a tendência de bloquear os debates subsequentes. O Papa implora por intercâmbios a partir de uma consulta às bases, sem esquemas pré-mastigados pela burocracia eclesial. Isto já foi uma exigência dos Padres do Concílio Vaticano II, em sua abertura.
4. Retomar o diálogo com o mundo atual
Sem rodeios, o Papa voltou aos fundamentos do Vaticano II, citando a famosa fórmula introdutória da Gaudium et Spes: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”.
Atento aos sinais dos tempos, o Papa evoca a questão da adaptação às “questões existenciais do homem de hoje, especialmente das novas gerações, prestando atenção à sua linguagem”, e leva em conta a existência de universos culturais extremamente diferentes; “Em uma mesma cidade, existem vários imaginários coletivos que configuram ‘diferentes cidades’”. O Papa insiste na consideração das “tribos”, que se reúnem por afinidades, das megalópoles: “Se continuarmos apenas com os parâmetros da ‘cultura de sempre’, fundamentalmente uma cultura de base rural, o resultado acabará anulando a força do Espírito Santo. Deus está em toda a parte: há que saber descobri-lo para poder anunciá-lo no idioma dessa cultura; e cada realidade, cada idioma tem um ritmo diferente”. Encontramos aqui a paixão jesuíta pela inculturação.
De acordo com o Papa Francisco, a missão é uma tensão permanente: “Não existe o discipulado missionário estático. O discípulo missionário não pode possuir-se a si mesmo; a sua imanência está em tensão para a transcendência do discipulado e para a transcendência da missão. Não admite a auto-referencialidade: ou refere-se a Jesus Cristo ou refere-se às pessoas a quem deve levar o anúncio dele. Sujeito que se transcende. Sujeito projetado para o encontro: o encontro com o Mestre (que nos unge discípulos) e o encontro com os homens que esperam o anúncio. (…) No anúncio evangélico, falar de ‘periferias existenciais’ descentraliza e, habitualmente, temos medo de sair do centro. O discípulo-missionário é um ‘descentrado’: o centro é Jesus Cristo, que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais”.
Para além da sua crítica sobre o medo “de deixar o centro”, o Papa questiona uma visão centrada no umbigo da Igreja católica: “Quando a Igreja se erige em ‘centro’, se funcionaliza e, pouco a pouco, se transforma em uma ONG. Então, a Igreja pretende ter luz própria e deixa de ser aquele ‘mysterium lunae’ de que nos falavam os Santos Padres. Torna-se cada vez mais auto-referencial, e se enfraquece a sua necessidade de ser missionária. De ‘Instituição’ se transforma em ‘Obra’. Deixa de ser Esposa, para acabar sendo Administradora; de Servidora se transforma em ‘Controladora’. Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mãe, Servidora, mais facilitadora da fé que controladora da fé”. A Igreja não é uma aduana, já disse em outra ocasião.
5. Aprender uma cultura da pobreza, da ternura e do encontro
Encontramos aqui as manias de Jorge Mario Bergoglio, que cutuca as “pastorais ‘distantes’, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais… obviamente sem proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a ‘revolução da ternura’, que provocou a encarnação do Verbo. Há pastorais estruturadas com tal dose de distância que são incapazes de atingir o encontro: encontro com Jesus Cristo, encontro com os irmãos. Deste tipo de pastoral podemos, no máximo, esperar uma dimensão de proselitismo, mas nunca levam a alcançar a inserção nem a pertença eclesiais”.
Neste contexto, a conversão pastoral cabe ao próprio bispo, que deve ser um modelo: “Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’. Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra”. O Papa mencionou claramente o carreirismo daqueles que buscam uma “promoção” para dioceses de maior prestígio.

Fonte ; Blog Leonardo Boff

Assessor pede afastamento da Casa Civil

Assessor pede afastamento da Casa Civil

O assessor da Casa civil esta sendo acusado de Abuso Sexual quando era prefeito.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Neuras Eucaristicas



“ N e u r a s   e u c a r í s t i c a s ”                                                                                                           

 Carlo Tursi, teólogo


Em nome da verdade e do bom senso, é preciso admiti-lo: Clérigos e leigos católicos estão indo longe demais em sua ânsia – a princípio, justificada – de revalorizar a comunhão eucarística. Pior: Estão errando o alvo! A forma se sobrepõe ao conteúdo, o secundário assume o lugar do primordial, a obsessão substitui a serenidade. Senão, vejamos:
Testemunhei, durante missa em conhecida paróquia da capital cearense, um sacerdote jovem (sic!) instar os fiéis que (ainda) recebem a hóstia consagrada com a mão para verificarem se, após o consumo da partícula, eventuais migalhas da mesma não permaneciam grudadas na palma da sua mão: Seria preciso – assim o prelado – consumi-las uma por uma, já que até o menor farelo branco conteria o Cristo Eucarístico por inteiro! Fiquei estarrecido. Pensei: Onde foi que esse padre estudou Teologia? Quem teria ensinado a ele tamanho disparate? Mas o meu queixo caiu mesmo na hora em que uma moça passou por mim na fila da comunhão “catando” literalmente invisíveis restos eucarísticos da palma da mão dela, colocando-os na sua boca! Meu filho de 18 anos, também assistindo à cena, cochichou para mim: “Isso aí é neura, viu!”
No que pese a irreverência da expressão, tive que concordar com ele. Para começar: Se em cada migalha da hóstia (pozinho de farinha? molécula?) está contido o Cristo inteiro, quantos “Cristos inteiros” terá consumido a pessoa que comeu toda a partícula? Mais: Se Cristo não é parcelado, como “Ele” poderia “sobrar” após ter sido consumido? Na verdade, estes raciocínios – se é que raciocinar ainda possa ser considerado lícito para um católico... – só pretendem mostrar a que contradições absurdas conduz uma compreensão material, isto é, substancialista da presença real de Jesus no símbolo eucarístico. Por presumirem que a consagração das espécies sobre o altar possa produzir – como se fórmula mágica fosse – a sua transformação substancial, fazendo aparecer – no lugar do pão e do vinho – o corpo e o sangue de Jesus é que muitos fiéis desenvolveram, sob a orientação de clérigos ainda reféns da Contrarreforma, hábitos reverenciais obsessivos: não mastigar a hóstia na boca (será que o “corpo de Cristo” pode sentir dor?!), não comer nada em casa antes da missa (enquanto o apóstolo Paulo se sentiu à vontade para sugerir aos coríntios que comessem em casa antes de participar da ceia comunitária!), receber a hóstia em posição genuflexa e sobre a língua (ao contrário do que fez Jesus com os seus discípulos na Última Ceia!), guardar a partícula consagrada após o culto em receptáculos de ouro, adorando-a por horas seguidas (como se Jesus quisesse ser adorado como um objeto numinoso...). Foi o caráter compulsivo destas formas devocionais católicas e o agudo sentimento de culpa do devoto em caso de sua omissão que já levaram Sigmund Freud a compara-las às neuroses obsessivas...
É forçoso admiti-lo: Os defensores do dogma da transubstanciação alimentam nos fiéis uma consciência mágica própria da fase infantil, permitindo uma materialização grotesca, no imaginário católico popular, do mistério da fé. Em que consiste, no entanto, a experiência essencial desse mistério? Ora, conforme palavras do próprio Mestre trata-se de fazer isso “em memória” d’Ele, ou seja, comer o pão (de verdade!) e beber o vinho (de verdade!) para assim trazer presente, em meio à assembleia dos discípulos, o Seu espírito, a essência de Sua vida e mensagem que foi a autodoação, a auto-entrega, o compartilhar-se com os outros, o ser para os outros. É esta a verdadeira presença real – e onde este espírito não se fizer presente na mente dos fiéis, ali inexistem eucaristia, sacramento e comunhão com Jesus, por mais que alguém se arraste de joelhos pelo chão da igreja... Não são as formas reverenciais e a quantidade de incenso que revelam o sagrado! Não somos fetichistas que gozam só ao olhar o objeto de sua devoção! Não tem comunhão com Cristo quem não comunga com seu espírito, sua essência expressa no gesto do Lava-pés: Ao recebermos o símbolo eucarístico do corpo e do sangue de Jesus, estamos alimentando espiritualmente a nossa (sempre fraca) disposição para servir ao próximo, partilhar com os outros o que temos e nos comprometer com o melhoramento de uma sociedade tão desigual como é a nossa. Este é o autêntico mistério da fé: que o Cristo Espiritual que se oferece a nós em forma de alimento seja capaz de – ainda hoje – mover os nossos corações a se abrirem para os grandes desafios do nosso momento histórico, enchendo-nos de fé, esperança e amor para dar (e não para vender). Uma compreensão falsa da presença real, ao contrário, vê o Cristo materializado na substância da partícula, fala inapropriadamente em “milagre eucarístico” e espera da ingestão de Jesus, em primeiro lugar, benefícios para si próprio, sejam eles psicológicos (paz de espírito, ausência de conflito, esquecimento dos problemas reais) ou físicos (saúde, proteção contra a violência, prosperidade). O caráter ilusório, quase delirante dessas noções precisa ser trazido à luz – “para o nosso bem e de toda a Santa Igreja”.                                                         

CARTA AOS BISPOS DO BRASIL - Bispos Eméritos escrevem aos Bispos do Brasil

15 de agosto de 2013, Festa da Assunção de Nossa Senhora.

Queridos irmãos no episcopado,
Somos três bispos eméritos que, de acordo com o ensinamento do Concílio Vaticano II, apesar de não sermos mais pastores de uma Igreja local, somos sempre participantes do Colégio episcopal, e junto com o Papa, nos sentimos responsáveis pela comunhão universal da Igreja Católica.
Alegrou-nos muito a eleição do Papa Francisco no pastoreio da Igreja, pelas suas mensagens de renovação e conversão, com seus seguidos apelos a uma maior simplicidade evangélica e maior zelo de amor pastoral por toda a Igreja. Tocou-nos também a sua recente visita ao Brasil, particularmente suas palavras aos jovens e aos bispos. Isso até nos trouxe a memória do histórico Pacto das Catacumbas.
Será que nós bispos nos damos conta do que, teologicamente, significa esse novo horizonte eclesial? No Brasil, em uma entrevista, o Papa recordou a famosa máxima medieval: “Ecclesia semper renovanda”.
Por pensar nessa nossa responsabilidade como bispos da Igreja Católica, nos permitimos esse gesto de confiança de lhes escrever essas reflexões, com um pedido fraterno para que desenvolvamos um maior diálogo a respeito.

1. A Teologia do Vaticano II sobre o ministério episcopal
O Decreto Christus Dominus dedica o 2º capítulo à relação entre bispo e Igreja Particular. Cada Diocese é apresentada como “porção do Povo de Deus” (não é mais apenas um território) e afirma que, “em cada Igreja local está e opera verdadeiramente a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica” (CD 11), pois toda Igreja local não é apenas um pedaço de Igreja ou filial do Vaticano, mas é verdadeiramente Igreja de Cristo e, assim a designa o Novo Testamento (LG 22). “Cada Igreja local é congregada pelo Espírito Santo, por meio do Evangelho, tem sua consistência própria no serviço da caridade, isto é, na missão de transformar o mundo e testemunhar o Reino de Deus. Essa missão é expressa na Eucaristia e nos sacramentos. Isso é vivido na comunhão com seu pastor, o bispo”.
Essa teologia situa o bispo não acima ou fora de sua Igreja, mas como cristão inserido no rebanho e com um ministério de serviço a seus irmãos. É a partir dessa inserção que cada bispo, local ou emérito, assim como os auxiliares e os que trabalham em funções pastorais sem dioceses,todos, enquanto portadores do dom recebido de Deus na ordenação são membros do Colégio Episcopal e responsáveis pela catolicidade da Igreja.

2. A sinodalidade necessária no século XXI
A organização do papado como estrutura monárquica centralizada foi instituída a partir do pontificado de Gregório VII, em 1078. Durante o 1º milênio do Cristianismo, o primado do bispo de Roma estava organizado de forma mais colegial e a Igreja toda era mais sinodal.
O Concílio Vaticano II orientou a Igreja para a compreensão do episcopado como um ministério colegial. Essa inovação encontrou, durante o Concílio, a oposição de uma minoria inconformada. O assunto, na verdade, não foi suficientemente amarrado. Além disso, o Código de Direito Canônico, de 1983 e os documentos emanados pelo Vaticano, a partir de então, não priorizaram a colegialidade, mas restringiram a sua compreensão e criaram barreiras ao seu exercício. Isso foi em prol da centralização e crescente poder da Cúria romana, em detrimento das Conferências nacionais e continentais e do próprio Sínodo dos bispos, este de caráter apenas consultivo e não deliberativo, sendo que tais organismos detêm, junto com o Bispo de Roma, o supremo e pleno poder em relação à Igreja inteira.
Agora, o Papa Francisco parece desejar restituir às estruturas da Igreja Católica e a cada uma de nossas dioceses uma organização mais sinodal e de comunhão colegiada. Nessa orientação, ele constituiu uma comissão de cardeais de todos os continentes para estudar uma possível reforma da Cúria Romana. Entretanto, para dar passos concretos e eficientes nesse caminho – e que já está acontecendo – ele precisa da nossa participação ativa e consciente. Devemos fazer isso como forma de compreender a própria função de bispos, não como meros conselheiros e auxiliares do papa, que o ajudam à medida que ele pede ou deseja e sim como pastores, encarregados com o papa de zelar pela comunhão universal e o cuidado de todas as Igrejas.

3. O cinquentenário do Concílio
Nesse momento histórico, que coincide também com o cinqüentenário do Concílio Vaticano II, a primeira contribuição que podemos dar à Igreja é assumir nossa missão de pastores que exercem o sacerdócio do Novo Testamento, não como sacerdotes da antiga lei e sim, como profetas. Isso nos obriga colaborar efetivamente com o bispo de Roma, expressando com mais liberdade e autonomia nossa opinião sobre os assuntos que pedem uma revisão pastoral e teológica. Se os bispos de todo o mundo exercessem com mais liberdade e responsabilidade fraternas o dever do diálogo e dessem sua opinião mais livre sobre vários assuntos, certamente, se quebrariam certos tabus e a Igreja conseguiria retomar o diálogo com a humanidade, que o Papa João XXIII iniciou e o Papa Francisco está acenando.
A ocasião, pois, é de assumir o Concílio Vaticano II atualizado, superar de uma vez por todas a tentação de Cristandade, viver dentro de uma Igreja plural e pobre, de opção pelos pobres, uma eclesiologia de participação, de libertação, de diaconia, de profecia, de martírio... Uma Igreja explicitamente ecumênica, de fé e política, de integração da Nossa América, reivindicando os plenos direitos da mulher, superando a respeito os fechamentos advindos de uma eclesiologia equivocada.
Concluído o Concílio, alguns bispos – sendo muitos do Brasil – celebraram o Pacto das Catacumbas de Santa Domitila. Eles foram seguidos por aproximadamente 500 bispos nesse compromisso de radical e profunda conversão pessoal. Foi assim que se inaugurou a recepção corajosa e profética do Concílio.
Hoje, várias pessoas, em diversas partes do mundo, estão pensando num novo Pacto das Catacumbas. Por isso, desejando contribuir com a reflexão eclesial de vocês, enviamos anexo o texto original do Primeiro Pacto.
O clericalismo denunciado pelo Papa Francisco está sequestrando a centralidade do Povo de Deus na compreensão de uma Igreja, cujos membros, pelo batismo, são alçados à dignidade de “sacerdotes, profetas e reis”. O mesmo clericalismo vem excluindo o protagonismo eclesial dos leigos e leigas, fazendo o sacramento da ordem se sobrepor ao sacramento do batismo e à radical igualdade em Cristo de todos os batizados e batizadas.
Além disso, em um contexto de mundo no qual a maioria dos católicos está nos países do sul (América Latina e África), se torna importante dar à Igreja outros rostos além do costumeiro expresso na cultura ocidental. Nos nossos países, é preciso ter a liberdade de desocidentalizar a linguagem da fé e da liturgia latina, não para criarmos uma Igreja diferente, mas para enriquecermos a catolicidade eclesial.
Finalmente, está em jogo o nosso diálogo com o mundo. Está em questão qual a imagem de Deus que damos ao mundo e o testemunhamos pelo nosso modo de ser, pela linguagem de nossas celebrações e pela forma que toma nossa pastoral. Esse ponto é o que deve mais nos preocupar e exigir nossa atenção. Na Bíblia, para o Povo de Israel, “voltar ao primeiro amor”, significava retomar a mística e a espiritualidade do Êxodo.
Para as nossas Igrejas da América Latina, “voltar ao primeiro amor” é retomar a mística do Reino de Deus na caminhada junto com os pobres e a serviço de sua libertação. Em nossas dioceses, as pastorais sociais não podem ser meros apêndices da organização eclesial ou expressões menores do nosso cuidado pastoral. Ao contrário, é o que nos constitui como Igreja, assembleia reunida pelo Espírito para testemunhar que o Reino está vindo e que de fato oramos e desejamos: venha o teu Reino!
Esta hora é, sem dúvida, sobretudo para nós bispos, com urgência, a hora da ação. O Papa Francisco ao dirigir-se aos jovens na Jornada Mundial e ao dar-lhes apoio nas suas mobilizações, assim se expressou: “Quero que a Igreja saia às ruas”. Isso faz eco à entusiástica palavra do apóstolo Paulo aos Romanos: “É hora de despertar, é hora e de vestir as armas da luz” (13,11). Seja essa a nossa mística e nosso mais profundo amor.
Abraços, com fraterna amizade.
Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba.
Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás.
Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia.